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novembro 1, 2005
Minha Teia 2.0
O Tarzan deve morrer de inveja do Homem-Aranha: o cara clica num botão
e zás, sai um cipó automático limpinho para se baloiçar sobre abismos.
Assim é fácil.
Para piorar a raiva, a selva de pedra tem mocinhas muuuito mais interessantes do que a Jane e a Chita. Sem platéia feminina de que adianta desfilar saradão e seminu pela floresta, afinal? Uma banana pra esse mascarado, deve grunhir o homem-macaco.
É curioso que um dos super-heróis mais queridos seja... uma aranha. Imagine você convencendo um cliente ou chefe de que um homem-inseto que sobe pelas paredes e lança teias vai ser um estrondo comercial. Faça isso hoje e o cara ou te demite ou pede antes um focus-group, que vai optar fragorosamente pelo Iridiscente Homem-Borboleta. Só o Stan Lee mesmo para emplacar uma idéia improvável dessas.
Mudemos da Cartoon Network pro Discovery Channel: o forte das aranhas não é o bungie-jumping. Aranhas vivem por um fio, mas um fio que tece teias. O bichinho escolhe um canto e vai pacientemente esticando, prendendo, enredando, até que uma teia complicada e invisível fique estendida no ar. Como um certo senhor barbudo, ao final da criação ela descansa.
Descansar é modo de dizer: na ponta de suas patas os fios tensos vão dando notícia se o almoço chegou ou não. Um tremelique nervoso no setor XYZ é a sineta do lanche: ela corre para o ponto exato antes que o almoço escape.
Biologices à parte, vou confessar uma coisa: pela primeira vez em anos eu vejo sentido nessa história de falar em web. Que web é teia em inglês não é novidade, mas antes o que me vinha a cabeça era uma teia mundial de computadores interligados e zunindo, e a metáfora não me comovia muito.
Tudo mudou, ou melhor, tudo está mudando muito rápido. A teia agora é outra. Eu posso escolher quais são as fontes de notícia e informação mais relevantes para mim e concentrá-las todas numa página só, ou em um único software. Eu bato o olho ali e vejo o que tem de novo em N fontes diferentes. Como a aranhazinha, sem sair do lugar eu fico ligado em mil fios que me anunciam as novidades. E tudo o que eu produzo, de podcasts a blogs passando por minhas fotos, tudo pode ser importado nas teias alheias.
Como isso é possível? RSS.
Não, RSS não quer dizer "risos". RSS é tão fácil que é até divertido, mas é algo bem sério. RSS (realyl simple syndication) foi um recurso criado anos atrás para facilitar a distribuição de informações. Eu atualizo meu podcast "roda e avisa" (http://www.usina.com/rodaeavisa) e automaticamente um arquivinho é gerado com o resumo das mudanças. Esse arquivinho de nada é que permite que pessoas do mundo todo "acompanhem" as coisas que eu publico sem ter que visitar minha página.
(Confira http://pt.wikipedia.org/wiki/RSS para ver mais detalhes, é bem bacana)
Preste atenção em grandes sites de notícias, em bons blogs e portais: você vai ver que em algum lugar vai ter um botãozinho escrito RSS, ou XML, ou FEED. Esse botão tem um link, e esse link você pode adicionar à tua teia pessoal de interesses e fontes de notícia.
Quer ver um bom exemplo? A CNN oferece inúmeros feeds: http://www.cnn.com/services/rss/ Outro exemplo: ontem me indicaram um blog bárbaro de um americano super-antenado: http://jeremy.zawodny.com/blog/. Como o blog dele tinha RSS, adicionei-o imediatamente à minha página agregadora e pronto: agora ele faz parte da minha teia, ou melhor, da minha web.
OK, agora todos nós temos "sentidos de aranha", todos nós lançamos teias num duplo-clique. Isso o Peter Parker já tinha. Mas temos uma vantagem sobre o CDF solitário: somos milhões de aranhas, milhões, cada uma construindo sua própria web, cada uma produzindo e pendurando na teia para todas as outras aranhas, cada uma aliando forças com outras aranhas e montando sua própria rede de comunidades e trabalho.
Para nós que trabalhamos com essa selva de teias, qual o impacto? O que muda? Vamos ter que repensar nossa maneira de fazer sites, de criar serviços, de pensar em ações de comunicação?
Sim, e rápido. A menos que queiramos ficar de tanga escutando gorilas
Posted by renedepaula at novembro 1, 2005 9:50 PM